Descrição
Despertado, certa vez, pela menção ao Ad Herennium e à Arte da Memória por Jonathan D. Spence, quando da tradução para o português de seu livro O Palácio da Memória de Matteo Ricci, percebi certas relações históricas, não no sentido cronológico ou de causalidade estrita certamente, que aquele manual de retórica, em sua parte referente à memória artificial para imagens e palavras, permitia que se estabelecessem entre a construção secular da memória e do olhar e a construção contemporânea da memória e do olhar pelas imagens e palavras em movimento do cinema: um maravilhoso e fantástico programa de educação visual. Digo maravilhoso porque as imagens e as palavras que lhe dão forma assim o são. Fantástico porque, sem ser um programa de intencionalidade objetiva, como, às vezes, parece, ele vem produzindo, anônimo e silencioso, em arte e simulação, as imagens da nossa memória e as formas da nossa imaginação do real. Maravilhosas e fantásticas, como as imagens do cinema, também o são as da Cappella degli Scrovegni de Giotto em Pádua e as de Ambrogio Lorenzetti no Palazzo Pubblico, em Siena, sobre as quais escrevo, vendo-as com o olhar da arte da memória artificial do Ad Herennium. Tanto a Cappella quanto o Palazo Pubblico são obras já catalogadas e exaustivamente exploradas tanto pelo Patrimônio Artístico como pelo Patrimônio Acadêmico. Ambas também fazem parte dos objetos comercializados pelo turismo cultural. Talvez por isso elas tenham me conduzido para vê-las despontar inscritas na secular história da memória e do cinema.
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