Descrição
A necessidade de escrever a apresentação deste primeiro livro da trilogia de leitura reavivou em mim uma lembrança muito nítida do filme A flauta mágica, de Ingmar Bergman. Para quem não viu o filme, cabe destacar que a cena inicial se compõe de uma longa série de close ups de fisionomias humanas ou, mais especificamente, de rostos admirando o transcorrer de uma peça teatral. Bergman vai passando a câmera de rosto em rosto talvez com o propósito de enaltecer e confirmar o papel do interlocutor durante a fruição da arte. Quer dizer, sem platéia, sem público, sem ouvinte, sem leitores, a comunicação artística não se faz nem se realiza. Nem de longe quero me comparar a Bergman, considerado pela crítica como um dos maiores diretores cinematográficos de todos os tempos. Quero, isto sim, partir da cena das fisionomias para recuperar a imagem das pessoas que estiveram presentes às conferências e palestras que ministrei nestes últimos 8 anos. Alguns rostos ainda estão fixados em minha mente (principalmente daqueles que diretamente me fizeram os convites para eu palestrar aqui ou ali), mas a grande maioria certamente nem conseguiu um pequeno lugar na minha memória. Mesmo assim, agora que produzo um livro com base nessas experiências, eu sei que essas pessoas estiveram comigo, me viram, ouviram e me acompanharam durante as exposições, discussões e debates. Reúno nesta obra da trilogia um conjunto de seis reflexões na forma de exposições para platéias constituídas principalmente por professores (dentro e fora do Brasil). Os temas, conforme assinalados pelos títulos, não são meus: foram propostos pelos organismos e/ou pelas autoridades que fizeram os convites para eu participar do evento. Achei por bem não mencionar os locais onde as falas foram feitas mesmo porque, em algumas delas, o lugar aparece explicitamente no corpo do texto, outrossim, por vezes o mesmo texto foi apresentado em duas cidades diferentes, aproveitando a pertinência do assunto ou por ser um tópico privilegiado por uma entidade federal para ser discutido nacionalmente, como foi o caso da reflexão sobre as bibliotecas escolares, encaminhada pelo Proler/Casa da Leitura/Biblioteca Nacional em 2002. Onde possível, guardei as perguntas escritas que se seguiram às palestras, escrevi as respostas e as incorporei nesta obra. Acredito que assim agindo eu possa esclarecer ainda mais algumas das idéias que procuro veicular nos textos. Sempre é bom lembrar que, em se tratando de convites formais para participação em eventos, muito dificilmente eu falo de maneira extemporânea, pelo contrário, é meu costume costurar um texto previamente, ensaiar a sua leitura expressiva e ler em voz alta para a platéia. Também costumo parar em alguns trechos a fim de incorporar fatos que porventura tenham ocorrido e que tenham relação com as proposições do texto. Esse é o meu jeito e a sua vantagem é que posso posteriormente retomar e reelaborar os trechos que geraram dúvidas para o público e também incorporar a participação das pessoas que arriscaram perguntas por escrito. A todas as pessoas que me questionaram e cujos nomes eu aqui não menciono eu que quero deixar também registrado o meu mais profundo agradecimento, alçando-os à qualidade de co-autores da obra. Quando da publicação de um livro, fica sempre uma expectativa do autor a respeito do alcance e dos efeitos das suas idéias e proposições junto aos diferentes leitores. Se me perguntassem qual a minha principal expectativa para este livro, eu responderia que é um desejo intenso de uma mudança quantitativa e qualitativa da leitura no Brasil. De fato, revendo a minha trajetória de professor para mais de 30 anos de produção e militância, consigo perceber que a minha razão de ser profissional esteve e está – senão unicamente – extremamente relacionada com a democratização da leitura em nosso país. Por conhecer alguns dos benefícios e prazeres gerados pela leitura, quero que mais dos meus irmãos brasileiros possam ter o mesmo direito que eu. Além disso, me causam muita felicidade as cenas em que as pessoas, com um livro nas mãos, mergulham no texto e produzem idéias na imaginação. Talvez seja exatamente assim que possam se iniciar, ideal e depois concretamente, as transformações tão necessárias à sociedade brasileira. Quem sabe… Nunca se sabe…
Avaliações
Não há avaliações ainda.