Dança…: ensino, sentidos e possibilidades na escola

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Dançar… um dos maiores prazeres que o ser humano pode desfrutar. Uma ação que traz uma sensação de alegria, de poder, de euforia interna e, principalmente, de superação dos limites dos seus movimentos.

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Descrição

“Escolher a dança foi para mim não ter escolha. Assim como acontece quando amamos alguém, ou quando nos apaixonamos subitamente por algo. Senti este encontro nascendo de um primeiro olhar que desencadeou uma escolha mútua, assim se deu o abraço e logo ocorreu este lançar-se intenso às mais diversas carícias. Dançar é expressar este querer, este constante apaixonar-se e admirar-se diante das essências das coisas, das pessoas e do mundo” (Débora Barreto)
Dançar… um dos maiores prazeres que o ser humano pode desfrutar. Uma ação que traz uma sensação de alegria, de poder, de euforia interna e, principalmente, de superação dos limites dos seus movimentos. Algumas pessoas não se importam com o passo correto ou errado e fazem do ato de dançar uma explosão de emoção e ritmo que comove quem assiste. Superam os entraves emoldurados pela vergonha e invadem as pistas de dança, mostrando numa expressão corporal todo sentimento gerado por diferentes ritmos de música. É como se a dança fizesse parte do ser. Não é possível ouvir uma música sem que seu corpo a traduza em movimentos. Há crianças, e até bebês, que ritmicamente expressam a sua percepção musical. Mas há também aqueles que se limitam a olhar o hábil dançarino e se extasiam ao se imaginarem em seu lugar. Querem ser “o que dança”, querem estar no papel de quem dança, mas não conseguem sincronizar os seus movimentos com o ritmo proposto por uma música. Suas expressões ficam limitadas à sua imaginação, pois o que lhe parece é que seu corpo não pode responder às coreografias que sua mente cria. Dançar é expressar emoções por meio do corpo. É esculpir no ar figuras harmoniosas que nascem de um pulsar da música. Mas se dançar é sinônimo de prazer e só faz bem, por que é restrito a alguns? Por que nem todos experimentam essa sensação? Que magia é essa que está reservada aos que dançam? Será que todos que dançam sentem essa magia? O que sentem aqueles que não dançam? Por que dançam ou por que não dançam? Indagações que perpassam o pensar daqueles que vivem pela dança. Débora Barreto é uma bailarina que fez de sua vida uma dança, ou da dança a sua vida. Em seus gestos, em suas palavras, em seu olhar, paira sempre uma sensibilidade natural de alguém que se revela nos movimentos que cria, que expressa. Fala dançando… Explica-nos dançando… Escreve dançando… Em sua trajetória, além de dançar, preocupou-se com as possibilidades de dançar do outro. E, ao perceber a importância de se dar oportunidade à dança como possibilidade de expressão de sentimentos, imaginou a dança sendo ensinada na escola, espaço formal de aprendizagem, onde o tema deveria ser tratado como um conhecimento corporal a ser experienciado pelos alunos. Seguindo um rigor metodológico, determinado pela ciência, Débora transforma suas idéias em pesquisa científica. Acompanhando sua trajetória acadêmica, deparei-me com seus avanços ao mergulhar em reflexões filosóficas. Partindo, então, das suas próprias experiências, ela busca a compreensão desse fenômeno que envolve a corporeidade e a expressividade humana, investigando o sentido do dançar. Numa análise mais profunda, apresenta sua concepção estética de educação apoiada em diversos autores contemporâneos. Mas, a originalidade de seus estudos fixa-se numa discussão sobre as possibilidades que o licenciado em Dança tem para poder “ensinar a dançar”, quando aponta a contradição da existência de uma habilitação perante nossa realidade escolar que não apresenta o espaço para esse profissional atuar. Sai em busca dos discursos desses licenciados, revelando o que eles têm a dizer sobre isso. Mas não se satisfaz em apenas declarar essa contradição. Sem se desviar do seu foco de análise, que é apresentar a dança como uma possibilidade de conteúdo escolar, Débora vai conhecer esse espaço que só poderia acontecer por meio da Educação Física ou da Educação Artística, ouvindo aqueles que se estão licenciando nessas áreas do conhecimento e que acabaram de estagiar nas escolas. Encontra-se com diferentes olhares da dança, mostrados pelos sujeitos de sua pesquisa. Revela-nos as diferentes concepções daqueles que vêem a dança como uma experiência de um “corpo imaginante”, de um “corpo lúcido, lúdico e transformador”, sempre apontando a relevância dessa vivência. Nessa busca da essência do fenômeno, extrai um conceito de dança “dos braços das experiências dançantes”. Débora vai além da visão, ultrapassa os sentidos para lançar sugestões de se trabalhar em diferentes conteúdos partindo “da experiência estética, do fazer artístico do educando”. Enfatiza a dança como expressão artística sendo desenvolvida com a intenção de estimular a sensibilidade dos educandos, promovendo a descoberta do próprio corpo. Vê o dançar na escola como uma experiência da corporeidade de quem vivencia. Fala de uma dança a ser vivida num contexto educacional e recreativo, em que coloca o aluno em contato com o mundo artístico, de uma dança que acolhe também “as angústias, o desconforto, a dor, o medo”, de uma dança como forma de conhecimento na educação. A autora desenvolve seu livro numa escrita fluente e interessante, que reporta o leitor a um espetáculo de dança, “… repleto de fantasias, sentimentos e possibilidades”, percorrendo dos ensaios ao prazer do grand finale. Compõe uma obra de grande importância não só para o público da dança como também para todos que discutem questões educacionais presentes na escola, como um espaço de aprendizagem. Pontua, com muita criatividade, aspectos inerentes à formação humana. Numa abordagem fenomenológica, ela interpreta os discursos, reduzindo o fenômeno à sua essência: dá-nos o sentido do dançar, o seu significado para o desenvolvimento humano. Com sua escrita, faz mais do que nos apresentar a dança, incita-nos a experienciá-la. Desperta no leitor o desejo de vivenciar as sensações produzidas pela dança ao caracterizar os capítulos nos elementos de um espetáculo de dança. Com isso, posso afirmar, não só o espaço acadêmico é que ganha, mas todos nós, que podemos saborear o saber dessas entrelinhas. (Vilma Lení Nista-Piccolo – Professora doutora da Universidade São Judas Tadeu/Unicamp)

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