Descrição
Apresentação
Leitura “em curso” pretende ser: (1) um programa de ensino aos leitores que quiserem aprender mais sobre o tema e (2) um passeio através de sínteses que tematizam o ato de ler, na intenção de entendê-lo melhor. Ainda que diferentes interlocutores possam se beneficiar com o conhecimento decorrente da leitura da obra, é principalmente com os professores de ensino fundamental e médio que desejo dialogar. A obra, parte integrante de uma trilogia pedagógica, não pretende ser um tratado sobre a questão. Pelo contrário, a sua intenção é relatar os trabalhos que produzi numa grande caminhada em prol da democratização da leitura no território nacional. Uma causa que abracei há mais de trinta anos e que, infelizmente, ainda persiste, vergonhosamente, no país. Também, uma problemática que decorre, em maior grau, do descaso dos governantes para com as necessidades da educação e da escola públicas, em menor grau, decorre também da débil formação pedagógica dos professores para o seu ensino e a sua dinamização na sala de aula. Trata-se de uma coletânea de textos cuja unidade reside na relação leitura-ensino, com forte apelo para uma revisão urgente das formas pelas quais as práticas de leitura são conduzidas pelos professores e, em parte, pelos bibliotecários. As nossas escolas são precárias em vários aspectos – é exatamente na infra-estrutura para a promoção da leitura que essa precariedade fica ainda mais evidente. Sendo assim por tradição e por descaso, é importante que o professor saiba analisar as circunstâncias que envolvem o seu trabalho e, ao mesmo tempo, analisar-se enquanto leitor. Eis aqui um outro propósito deste livro, ou seja, fornecer alguma substância para a restauração crítica do ato de ler no contexto escolar. A partir da década de 1980, as pesquisas e os estudos sobre a leitura escolarizada cresceram significativamente no Brasil. Cresceu, também e felizmente, o número de paradigmas para a abordagem do processo, gerando muitas possibilidades de se conceber a leitura e, ao mesmo tempo, de promovê-la a partir do contexto escolar. Nunca é demais lembrar que a leitura, para ser praticada pelo sujeito, precisa do ensino formal – é na escola e, dentro da escola, com um professor, que fica a possibilidade maior da inserção permanente do sujeito no mundo da escrita. Caso a escola patine, tropece ou caia nesse percurso, é muito provável que mais uma pessoa ficará para sempre fora das fronteiras desse mundo. Nem de longe eu acho que este livro ou esta trilogia será capaz de inverter ou reverter ou mudar todo o complexo conjunto de condicionantes que empobrecem a leitura na escola e na vida dos professores. Como eu disse, as condições concretas para se fazer uma leitura escolar ou acadêmica de qualidade no Brasil dependem de governantes que tenham vergonha na cara e queiram realmente assumir de frente esse desafio. Que queiram, por vontade e consciência política, maciçamente, investir verbas para recuperar o tempo perdido e o atraso nessa área. Melhor tomar este livro como uma singela contribuição ao fortalecimento das lutas, batalhas e guerras que deverão ainda ser travadas em prol da democratização da cultura e do livro no país – talvez lendo estes textos os professores passem a perceber um pouco melhor as misérias da escola e da sua própria condição de leitores. Sempre aproveitando os espaços para promover a leitura, encerro esta apresentação com um conto plausível de Drummond.
Um Livro e sua Lição
Poucos livros são como este livro. Aparentemente, igual a muitos. Mas se o abrires em qualquer página, encontrarás de cada vez um texto diferente.
Ouvi que na Ásia há um livro com a mesma propriedade, e que nos Estados Unidos existiu um outro, comprado a um derviche, mas que, pelo manuseio constante, não apresenta a singularidade: ficou um livro como os demais, unívoco.
O exemplar que possuo não deixo que ninguém o consulte. Zelo por sua integridade, e só de longe me animo a folheá-lo. E é sempre um assombro.
Não o comprei. Achei-o no porão de uma casa onde só havia trastes abandonados e teias de aranha. Ao descobrir sua inacreditável raridade, fiquei trêmulo e guardei o segredo até dos mais íntimos.
Este livro extraordinário me explicou o sentido do mundo que varia sempre e não se subordina a qualquer filosofia. Explicação que não explica, pois, sendo infinitas as variações, qualquer delas só dura o tempo de leitura de uma página, ou meia.
Não posso continuar guardando o volume, e não sei o que fazer dele. Tenho medo de abri-lo, medo de rasgá-lo, medo de que o furtem, medo de ler uma sentença aniquiladora, a última sentença. Depois da qual o mundo deixaria de ser vário e, portanto, de existir. (Carlos Drummond de Andrade, “Um livro e sua lição”, em Contos plausíveis, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1985, p. 156).
Boa leitura – e muita sorte – aos meus parceiros de caminhada! Lendo a gente se desentende…
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